Vou exemplificar
algumas expressões racistas utilizadas até hoje no cotidiano.
A expressão
"O dia hoje está negro" teria como sentido denotativo "um dia
sem sol, com nuvens escuras" e como sentido conotativo ou metafórico
"um dia cheio de problemas, aborrecimentos ou tensões", como ser
negro é sinônimo de problemas e aborrecimentos.
A expressão "Vocês
que são brancos que se entendam", num primeiro nível, teria a palavra
brancos se referindo a seres (+ humanos) brancos. Esta fala pressuporia um
falante não-branco, provavelmente de cor negra. No segundo nível, a palavra
"brancos" ficaria vazia, seria um dêitico dependente de um contexto
para que seu referente possa ser resgatado. Agora, o falante não precisa ser
necessariamente negro. O falante poderá ser branco e o provérbio terá, neste
segundo nível, uma interpretação genérica, semelhante a "Assim como negros
não devem participar de assuntos/problemas dos brancos, também é melhor que eu
(sujeito da enunciação) não participe do problema de vocês.
Estas
expressões, metáforas e analogias, são tão normais que nem percebemos quando a
utilizamos no cotidiano. Ocorrem mutações destas metáforas de acordo com o
cenário atual, é o caso da tirinha da Mafalda. Há quem diga que temos
necessidade de criar estas metáforas pela própria indignação com o contexto
dela inserido. Infelizmente, como no texto de Freyre, as metáforas entre
brancos e negros estão longe de acabar:
O branco é símbolo da divindade ou de Deus. O negro é o símbolo do
espírito do
mal e do demônio.
O branco é símbolo da luz...
O negro é símbolo das trevas, e as trevas exprimem simbolicamente o mal.
O branco é o emblema da harmonia.
O negro, o emblema do caos.
O branco significa a beleza suprema.
O negro a feiúra.
O branco significa a perfeição.
O negro significa o vicio.
O branco é o símbolo da inocência.
O negro, da culpabilidade, do pecado ou da degradação moral.
O branco, cor sublime, indica a felicidade.
O negro, cor nefasta, indica a tristeza.
O combate do bem contra o mal é indicado simplesmente pela oposição do
negro
colocado perto do branco.4 (FREYRE, 1951: 986)
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